Ah, que o cheiro não me atrapalhe agora. Pois estamos longe um do outro. E esse cheiro não me cega. E esse cheiro não me seduz.
Ainda conto os dias desde o último. Ainda descrevo teus cabelos, lembro da curva dos teus olhos, da tua sobrancelha, do arco da testa.
Eu conto de como me tocava e me desmanchava, como se nunca mais isso fosse possível, um fio de ar que atrapalha o caminho entre duas árvores que não se movem.
O ato que vem domar e apenas movimenta, ainda sem espaço, ruge sério de mágoa, provoca e enfeitiça as sombras. E estas se movimentam e corrompem tudo de amor que existe aqui dentro, num cheiro, num medo, num deslize...
O desejo de fora, aquele que circula por aí, sonda minhas entranhas de morta – estou morta, estou morta – e acende um par de fósforos. Queima de dentro pra fora, lambendo o que sou dentro, como era de seu prazer, em me desmoronar, do seu feitio de malicioso, de duro, de teste.
E se tornou memória, inscrita em mim, como ficam inscritas as estranhezas, as incompreensões, presentes, sempre presentes, mas nunca antes entendidas – e nem agora.
Rompi com os traços de metal que estagnavam a forma que me compunha. Destilei pecados, como se seca o sal das ondas, corroídas de inveja do resto do mar que ficou pra trás.
Quase vazia, quase pálida, esmoreço e me refaço, assopro um novo dia, pela flauta formada de chuva que tomo nas mãos. É música, novamente.
Um comentário:
Que passagem dolorosa e bela de renascimento é essa!
Lembrei da vendedoura de fósforos do Anderssem...
Mas te vi encarnando uma Fênix que revive das águas.
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