quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Tudo o que sou



Pode parecer confortável de longe…
Mas…
nada mais desconfortável do que ser e estar quem eu não sou e estou.
Não imaginava poder existir essa variável que existo hoje.
Novo ano,
presa em armadilhas que eu contruí.
Pensando tão não aqui…
flutuando um oceano,
até onde está.
Só para
Sentir respirar,
Sentir você olhar
mesmo sem me olhar.
Nessa aflição de contar dias,
sem saber se ainda
nos sentiremos vivos
na volta.
Eu deixei tudo que sou nos seus braços.
Eu voei aqui por uma promessa.
E cumpro,
e me encontro:
Tudo que sou agora é essa promessa.
Nunca mais vou prometer nada,
a não ser para mim.


sábado, 26 de dezembro de 2015


Nunca mais havia terminado textos com reticências. Doeu não saber como escrever um ponto final. Um coração engasgado adolescente. Batendo uma vez forte e outra fraca. Uma partitura a ser cantada pela frente e tudo que pensava era em estar com as duas mãos naquele rosto e os dois olhos naqueles olhos. Respirando perto. Ele diz que não consegue escrever seus sentimentos. Talvez seja melhor com um violão para dizer as coisas. Talvez seja apenas melhor com as mãos. Senti o corpo estremecer ao pensar nisso. A falta do seu toque no meu corpo dá vontade de chorar. Engasgada e adolescente.
De repente diz algo lindo - E eu digo: pára.
E a vontade que era de dizer sobre como consegui desengasgar as palavras, mudou para dizer como te quero, quanto, o mundo, te quero! Como está confuso, como está difícil, como sinto certo e errado, como quero desencarnar e flutuar até o seu quarto, para dormir aninhada ao seu lado. E que os desejos dessas palavras virem música e cheguem em ondas sonoras até você: boa noite.
Durma por estes dias em que não estaremos juntos. Ou mantenha-se acordado – para o meu medo. Medo de voltar mas não estar mais aqui.

Minha Música



A música de todos os pelos
eriçando
ao entrelaçar os dedos.

Música do cheiro
dos seus cabelos e suor
da roupa molhada no chão

Música de respirar sem ar
na minha nuca,
som do peso do seu corpo,
feito para o meu

Música de mostrar,
todo o domingo preguiçoso,
som da nossa vida,
um para o outro.

A música de mexer
mingau na panela
de madrugada

Música do seu olhar,
me olhando,
sem dó. sem nada

A música de todos
os filmes
que não vimos juntos

A música da sua barba,
Arranhando meu rosto
Marcando meu corpo.

E toda a música,
que não escutamos
nos espera,
nos invoca

Talvez por isso,
esteja tão difícil
parar de cantar

...



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Cold Breeze





It was not the lack of thoughts, words, or inspiration.
It was just trying so hard…
in the wrong language.

When she found out, she had to make a big first effort to learn
how to express herself in a way
she was not used to.
With an accent that she couldn’t even pronounciate.
Like a complete stranger

doing something she did for all her life.

Suddenly the words flew like a waterfall.
She could feel a cold winter wind beat her in the face.
and that first feeling of distance getting smaller really quick
Untill it gave place to

proximity. Familiarity.
Home

And though, sometimes, she used the words in a wrong way,
or used the same words too many times
- because she didn’t possessed more words to say what she meant
or felt -
She was not intimidated,
Because poetry is not to be written right.

It is written to be wrong.

It is written ‘cause that waterfall had to leak.
It is written because she is in love in another language.
And being so,
how could she say this in her own?

Language.

The weirdest feeling took her:
She was still that lady writer.
The words were smiling at her again,
- playing like kids in the paper sheet -
as her fingers couldn’t stop typing.

And it was not the lack of thoughts.
It was the need of saying them to the rest of the world.
- and to him.

domingo, 23 de agosto de 2015

Aeroportos



Muitos cadernos em branco.
E a memória cheia de cenas de aeroporto que nunca aconteceram.

Tiro o pó das folhas.
Construo uma nova caixa.
Mas ainda guardo os mesmos, mesmos, desejos

Hoje entendo, aprendi o que é dor.
Ouço a voz dizendo dê meia-volta.
Ainda desobedeço – mas ouço.

Agora eu moro no aeroporto,
e o simbólico desejo de voar se tornou
uma casa e suas raízes.

Cuido pouco das crias
e de mim.
Olho meu pai e reconheço:
Ele não me ensinou como

os olhos no mapa e
é grande demais
para deixar tanta dor se apegar.
Mas hoje eu criei uma nova caixa.

E é apenas a primeira.