segunda-feira, 20 de julho de 2009

Eu oro à mulher

Eu tenho um lado resistente à maturidade que é ao mesmo tempo a coisa mais linda de se ver e a que mais cria armadilhas para mim mesma. Ele me faz rolar em qualquer grama de pracinha que apareça na frente e correr como louca para abraçar quem eu sinto saudades...

Faz com que eu exale uma alegria que parece nunca acabar, que eu não saiba mentir, e que guarde flores de amores passados dentro da caixinha dos meus óculos de sol. E garrafas de vinho... mensagens de celular... cartas...

Mas também me assusta dos meus compromissos, me assusta de perder só um pouquinho de liberdade, de ter que fazer escolhas.

É ele que me viciou em música, que me faz cantar distraidamente muito alto e sem nenhuma pretensão. E que me impede de cantar concentrada, com muita pretensão.

Essa síndrome de Peter Pan me faz sonhar alto, todos os dias. Porém, me mantém no sonho... na comodidade de não ter que atingi-los, pois ela também me deflagra medo...

Medo de não conseguir, de falhar. De escolher errado. De renunciar aos confortos por coisas que podem não dar certo...

Eu alterno certa concorrência do lado criança, com momentos parcos de seriedade e empenho. Mas só o suficiente para seguir... brincando!

A criança que me habita jejua quando não se sente suficientemente amada. Perde o rebolado quando seus princípios não são coerentes. E chora muito.

E do choro, emerge uma sobriedade que a faz compreender, afinal, que o mundo não gira ao meu redor. Que não pára quando eu preciso descer.

Destas últimas lágrimas, meus olhos limpos viram que não dá... as escolhas são necessárias... muitas vezes contra o que se supõe sua natureza...

Que não é nada sua natureza, porque esta mesma foi inventada por um Peter Pan que insiste em continuar fazendo birra dentro de mim...

Aqui agora, vamos buscando um misto entre a criança e a velha, aquela mesma que diz “saia daqui”, nos momentos de perigo e que eu não ouço de tanto que minha infantilidade berra.

Aqui agora, vamos buscando essa mulher...

Até o nome me soa estranho: sempre me compreendi uma menina. Mas é hora.

Essa mulher anda sofrendo ainda mais, de tentar desabrochar e ocupar o lugar da minha idade. Ela bate fundo no meu peito todas as vezes que a criança a priva de assumir as situações.

E diz, alto e bom som:

- Agora é a hora da minha vez. Enquanto não me libertar, não vai... não vai aplacar esse sofrimento... não vai sair desse lugar que não quer mais ocupar.

Ela é o meu trabalho ao invés de parques de diversões suburbanos que não têm hora para fechar.

É o caminho para a casa que eu sonho, com árvores, balanços e gatos espalhados no jardim.

É o reconhecimento da necessidade do outro. De um outro, apenas um, em cujos braços eu me reconheça.

É a percepção de que meus medos não se originam em se provar algo para alguém. Mas em se provar para mim mesma. A mim... eu não posso mais decepcionar...

É compreender que, quando eu sei que não posso depositar minha confiança e esperança em algo ou alguém... eu simplesmente não devo fazer isso!

- Não pode!

É assumir que o mundo me espanta, mas me encanta. E que devo sair por aí, devorando-o aos pedaços...

-Mas não todos.

Lembrar que eu já tenho um espaço construído, mesmo que mal e porcamente, e que ele também me significa: eu sou dos livros, das letras, do conhecimento, da sabedoria e das artes... eu sou. Eu não preciso ser aceita em um outro espaço. Mas posso ocupar todos os espaços, sendo quem sou.

Saber que eu posso e preciso mudar. E que isso não significa alterar minha essência. Quem sabe, encontrar um espaço de diálogo, que me proteja das peraltices da criança, mas que me permita deitar a cabeça na grama e passar uma tarde olhando o formato das nuvens, sem me sentir culpada...

Sem me preocupar em não ter feito isso ou aquilo, sem me descredibilizar por não ter dado certo, por saber que eu tentei, demais, mas que não controlo a história de todas as coisas.