segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Venha


És tão claro, como uma rede atirada ao oceano de metáforas de uma língua morta.
Caminhando por pracinhas bucólicas em fins de tarde,
sentamos e lemos e observamos, como se nada mais houvesse de se fazer vida afora.
Domingos curtos e preguiçosos...

Venenos, meu caro. Venenos...
que quebrem a vulgaridade, atentando ao espírito.
Nos deitamos um ao outro, de cabelos que se embaraçam, se penteiam, se arrancam...

Debatemo-nos, inquirimo-nos, aceitamo-nos.
Cremos em ser mais do que somos.
Pois que a música nos denota solidão e reencontro,
pois que a música nos encara aos nossos abismos e lá, nos concebemos:
dois.

Deito às margens das ondas, olhos semi-cerrados, do abraço do sol...
e um medo de estender a mão para o lado...
E ela receber a sua resposta.
Aí sim...

aí sim:
Prostrar-me diante da noite, merecer.
Um corpo quente que me aterrorize ou me enterneça,
ao qual me entregue, seja como for.

Escrevemos nossos dias no tempero da carne,
no cheiro dos livros velhos que não cabem mais à estante,
que em nossas mãos se esfarelam, recriados.
Escrevemos nossos dias em versos,
do sabor que chega da cozinha
e contamina a rua.

Gosto do vinho que agora pertence às nossas entranhas.
E nos embriaga, e nos estraga, e nos faz sentir, mais e mais,
o deslumbre de se transformar, um ao outro, na mais pura efemeridade.

Venha logo.




Mari Brasil