sexta-feira, 13 de junho de 2008

Deu com a língua nos dentes...


O seu silêncio é uma revolução de abortos,
de cada frase, ou aspecto, ou ternura, ou coisa e tal.
É antes, um tiro no rabo da boiada.
Um desespero que antecipa:

que virou asas num outro quintal,
incendiou sua vida pra outro lado...

Seu silêncio dói que nem facada:
corta as gengivas, das palavras que não saem.
sangra aqui dentro o que estou calada.
Me acaba, me acaba...

que não tem mais criança que agüente,
cresceu na marra e não é boba: cala.

O seu silêncio me desamarra,
me retribui um dó que me ofende,
pensa que me surpreende e me poupa,
mas, diz tudo, sem dizer nada:

que tem medo de quebrar cubos de gelo,
quando deveria saber que o que resta é água.

O seu silêncio, além de tudo,
me pressupõe fraca,
te assume temeroso da vida,
ao mesmo tempo, contemplando-a do alto do seu ego:

que pensa que controla o que sinto,
que pensa que, do silêncio, não se sente nada.

O seu silêncio deu com a língua nos dentes,
disse tudo nas entrelinhas, travesso, brincando sem palavras,
entoou um mantra de adeus,
retirou suas armas e obedeceu ao toque de recolher:

que deixou no lugar um vazio de solidão,
e um silêncio meu,
que não significa mais nada.
Mari Brasil

domingo, 8 de junho de 2008

A você

Uma despedida atenta e sei, que apesar de seus olhos me negarem, seus ouvidos se posicionaram entre a porta e o meu andar,
desenhando cada um dos passos com letras miúdas nos seus pensamentos.
Sei também que as letras formavam poesia dentro de você,
que te esquentaram noite adentro, toda a caminhada até o portão de sua casa.
Sei que a casa soou diferente e que o cheiro te incomodou.
Sei que o riso aberto no sofá da sala te decepcionou outro tanto -
do tamanho da quantidade de letras com que descreveu meu prazer.
Sei que se percebeu bobo, lembrando dos meus olhos interessantes
e que se sentiu compelido a escrever um texto idiota sobre as idas e vindas da vida.
Sei que este texto afastou sua aflição e te deixou adepto dos bons momentos.
Sei que nada disso te importa na sua cruzada em direção à felicidade.
Sei, porém, que você não acredita nesse tipo de bobagem.
Sei que é por isso que é ainda, você, que me inspira a escrever essas coisas.

Uma despedida provocada e sei, que apesar de meus olhos procurarem os seus, não procuravam sua atenção,
mas sim um desejo incontido, que não habita há muito tempo meu corpo.
Sei também que o desejo formava poesia dentro de mim,
que me perturbou noite adentro, todo caminho até a entrada do meu quarto.
Sei que a cama soou solidão e que a falta do seu cheiro me incomodou.
Sei que o riso ao meu lado me decepcionou outro tanto –
do tamanho do quanto me nega, todo dia, ao me abraçar.
Sei que me percebi uma vaca, lembrando da sua cara de sexo, na companhia de outro cara
e que me senti obrigada a escrever esse texto idiota sobre minhas idas e vindas na vida.
Sei que este texto não me isenta de culpas, pelo contrário, me condena.
Sei que nada disso me importa na minha cruzada em direção à felicidade.
Sei que eu, idiota, acredito nesse tipo de bobagem.
Sei que é por isso que qualquer um me inspira a escrever essas coisas.


Entretanto, ainda as endereço a você.


Mari Brasil