Eu corro o risco de inventar sobre a filosofia do sexo quando ainda sinto a textura das pontas de dedos sobre o dorso da mão, desastradas, desastrosas, contando tempo, olhando pro lado, buscando uma maneira de tocar os seios, o resto todo do corpo que o cheiro deseja.
A solidão cínica que abraça a mágoa, ronda a briga, provoca e atiça, e contraria e contraria as vontades, sufoca as vontades, com fios de cabelo e palavras demoradas, com olhares mesquinhos, ainda que sedutores – ela pára. Ela recomeça.
Uma boca que sela o início: após tantas ofensas, o tom do escárnio, o desânimo, a dor de se deparar com o real que o outro vocifera, ali no meio de tudo, cola ao rosto, cola ao pescoço, e derruba a parede, devora a parede.
E se desmancham os dois, no meio de um vazio tão sem tamanho, que não sentem nada além do fôlego um do outro, se agarram à única coisa palpável, um ao outro, outro ao um.
Nesse ato, cessam o fogo e se reconhecem: são o mesmo, são par, são e só.
Sãos e salvos - um do outro.
Mari Brasil
Um comentário:
Li este texto atravessando um túnel escuro, no sufoco de angústias que a memória alcançava ao lidar com esse coito que me parecia tão doloroso...
mas olha que surpresa:
havia luz no fim...
e quanta luz!
Lindíssimo poema...
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