As quartas-feiras sempre me pareceram um bom dia para se começar a gostar de rodeio. Ao invés de ir assistir ao delírio coletivo sobre bois, me delicio na inquietude ordinária. Aposto no bom gosto da escova de dente verde-limão e aguardo, pacientemente, que um cometa passe pelo meu quintal, varrendo de luz a maré de absurdos em que me encontro imersa.
Às três da tarde de hoje, desejei entrar na televisão e ser a adolescente do filme da sessão da tarde.
Sinto falta de perder a virgindade e de me desdobrar em prantos a qualquer sinal de discordância dos meus pais.
Duro é não ter de quem discordar a não ser a gente mesma.
Um novo tipo de fungo invadiu a minha geladeira. Desconfio de sua origem extraterrestre e quase intuo que o cometa passou e não varreu nada, deixando apenas os algodõezinhos azuis e verdes em cima das laranjas.
Anda gelado demais durante a noite, coisa que vai me obrigar a usar calças compridas muito antes do que meu termômetro interno desejaria.
Continuo questionando toda a minha vida e, da mesma forma, mantendo-a exatamente do jeito que está. De antecipar a impossibilidade de mudança, proveniente da covardia com que respiro a cada dia, estes tantos litros de ar.
Sem mais,
Mariana
2 comentários:
sei que um texto é bom, pelo menos pra mim, quando ele dialoga com a minha própria solidão impenetrável...e esse foi assim...
e vc dentro dessa solitude que ecoa ainda coloca umas pitadinhas do seu melhor humor, que é aquele que sabe rir de si mesmo! te amo por isso....tb.
hum... fungos extraterrestres... conheço bem... essa casa que moras é bem propícia a tudo isso.
Postar um comentário