Ela pintou os olhos. Estufou o peito.
Cantou. Cantou.
E imaginou se seu cabelo agradaria. Se suas roupas agradariam.
Se seu sorriso bobo agradaria. Porque ela não o continha mais. Petrificou no rosto aquele êxtase de se sentir amada. Uma vez.
Pensou no abraço de frio do sábado. E em como ele a aqueceu, de saber, do frio. E como aquele gesto estaria marcado na sua cintura, como um arrepio constante e cego.
Pensou se ele teria visto a lua. Pensou em dizer que ele visse a lua.
- É claro que ele viu a lua. E pensou em mim.
Guiou-se até ele. Sentou-se com ele. E ouviu-o como se nada ouvisse. Porque era tudo abstrato demais, real demais para o que sentia, só de estar perto.
E não conseguiu mais se manter decente. E apostou em tudo o que tinha para continuar perto por toda a noite. Era a última noite por muito mais tempo do que ela gostaria de ficar longe.
O que havia para oferecer era seu corpo. Seu cheiro. Seus olhos. Que era o palpável. Que era tudo o que conhecia, o que possuía...
Se desmanchou em cima dele, como um gato deita no colo.
E, como um gato, ele a apanhou pelos braços e a colocou de volta em seu lugar, longe, saiu do carro. “Boa noite. Boa viagem”.
- Eu não sou um gato. - Tentava entender no caminho de casa.
O peito apertando...
- Eu não sou um gato...
Suas mãos apertando forte o volante, mordendo os lábios.
O cabelo. Deveria estar errado. O cheiro também. E se oferecer? Assim? Não era certo. Errara tudo.
Tudo, tudo. Do penteado, à falta de palavras, ao sorriso, ao apego.
E, de repente...
- Eu não sou um gato!
Ela sabia. Que não era ela que estava errada.
Pela primeira vez, ela não estava errada em nada. E doeu muito mais do que se estivesse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário