quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Deus

O que há de Deus

Que de entrega, que de alívio,

Te interfere a culpa de sentir-se vivo,

E de gozar, sombrio, as próprias entranhas


Que há, senhor deus,

De tanto desequilíbrio, entre Mim e o próximo,

Que eu não possa ou não deva.

Mas que a ele, por ele, me sacrifique


O que há de tanto desejo,

De tanta busca e promessas,

De compensar essa mísera existência.

Altares de homenagens, por simplesmente respirar


O que há?


De não contemplar o que se sente na carne,

De se envergonhar do próprio corpo,

templo de nós mesmos,

Para louvar a um alheio etéreo e ilusório


Quem lhe comanda na terra?

Como se apropria de palavras tão promíscuas,

Que, re-interpretadas, tantas e tantas vezes,

Justificam o amor, o ódio...

Mas nunca a dúvida, o talvez.


É uma prece a mim mesma,

Um lento rosno de vitórias estendidas

Sem se habituar a engrandecer o louco, o profano,

O umbigo e seu desnível em direção ao tudo,

Em relação ao nada.


Romper o véu da soberania desleixada,

que honrar uma palavra vazia de rosto, altiva de nome

estatizou no cumprimento de uma ordem.

O que há de desordem?

E se nada houver de ordem?


Se nada houver de se louvar,

de se culpar, de se agradecer, de se engrandecer,

eu caio de joelhos nessa terra, encaro a solidão do universo,

e rezo desmedidamente, crente,

no poder da minha própria palavra.


Amém.


Mari Brasil

2 comentários:

Celso Amâncio disse...

Quanto tempo não entrava aqui para contemplar suas profecias... como sempre esculpindo palácios e catedrais de palavras!

bjs

Celso Amâncio disse...

Belíssimas catedrais... palavras e imagens que se entrelaçam como um vitral.

Lindo e intenso!