terça-feira, 26 de maio de 2009

Amargo


Desconsidere minhas palavras hoje, nesses dias em que esfolo os teclados e os dedos, sinto um rosnar aqui dentro e amanso para o lado escuro, quase preto.

Eu quero o oposto: eu quero jaula... eu quero correr...

Quero não decidir.

Alguém deveria proibir esses hormônios, que eu ando alucinada deles, quase me viciando em tanto cinismo, de bola de neve, gelada, crescendo na goela.

Acordei e o mundo me fechou a cara.

Fechei de volta.

Eu disse “mundo, vai tomar no meio do olho do seu cu”!

E esse filho duma puta me deu um sorriso de volta! Vê se pode! Se eu lá quero piedade de deus ou o diabo?

Ignoro seu sorriso! Um mL de orgulho regurgitado de colher...

Eu aponto o dedo no seu nariz!

Destino de merda! Que nem vai me ouvir mesmo. Que não existe além do que se crê. Que sou eu mesma que traço, ponta de lápis cravada em papel: se vou jogar tudo pra cima, se vou agüentar mansa, até o final de uma vidinha ridícula que não significa nada.

De como não se reconhecer especial. De como se olhar no espelho depois disso.

Não há grandes obras, que nada. Só um bando de ilusões que perpetuam a espécie masoquista.

Mas, desconsidere minhas palavras hoje. Nesses dias em que só uma música pode me salvar...

ela toca.


quinta-feira, 14 de maio de 2009

ainda...

Ah, que o cheiro não me atrapalhe agora. Pois estamos longe um do outro. E esse cheiro não me cega. E esse cheiro não me seduz.

Ainda conto os dias desde o último. Ainda descrevo teus cabelos, lembro da curva dos teus olhos, da tua sobrancelha, do arco da testa.

Eu conto de como me tocava e me desmanchava, como se nunca mais isso fosse possível, um fio de ar que atrapalha o caminho entre duas árvores que não se movem.

O ato que vem domar e apenas movimenta, ainda sem espaço, ruge sério de mágoa, provoca e enfeitiça as sombras. E estas se movimentam e corrompem tudo de amor que existe aqui dentro, num cheiro, num medo, num deslize...

O desejo de fora, aquele que circula por aí, sonda minhas entranhas de morta – estou morta, estou morta – e acende um par de fósforos. Queima de dentro pra fora, lambendo o que sou dentro, como era de seu prazer, em me desmoronar, do seu feitio de malicioso, de duro, de teste.

E se tornou memória, inscrita em mim, como ficam inscritas as estranhezas, as incompreensões, presentes, sempre presentes, mas nunca antes entendidas – e nem agora.

Rompi com os traços de metal que estagnavam a forma que me compunha. Destilei pecados, como se seca o sal das ondas, corroídas de inveja do resto do mar que ficou pra trás.

Quase vazia, quase pálida, esmoreço e me refaço, assopro um novo dia, pela flauta formada de chuva que tomo nas mãos. É música, novamente.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Coisas que odeio escrever: simples e sinceras

Fico perguntando se você é de verdade, ou apenas meu coma alcoólico porque não dá para encarar tanto prazer de uma só vez sem desconfiar.

E ainda mais forte que a desconfiança do ilusório, é a sensação de real e concreto que seu abraço me passa. Tão sentido, tão forte, tão doce, que, pés no chão, tudo que percorre meu corpo parece tentar me desconcertar e me abalar.

Não, não... só pode ser mentira.

E desde há muito tempo, espero que alguém se abaixe e coloque uma flor no meu cabelo...

e quando você a apanhou, roubada, tão inusitado e espontâneo, fiquei olhando e rindo, que meu coração disparado estava a dissipar uma catarse aqui dentro.

Tenho certeza que você não entende o quanto isso foi importante. Era o meu mapa de tesouro. Não saber disso faz com que seja ainda melhor.

Eu respiro fundo todas as vezes que meus olhos encontram os seus, mesmo porquê, tento te encarar com a mesma objetividade da qual sua presença me priva.

E nessa briga entre me entregar ao sublime e manter um gesto calculista, me reviro do avesso, uma, duas, três vezes, buscando saber qual parte de mim te deseja, qual tem medo e qual não te quer.

Mas todas te querem...