Você me cobra favores, como fosse um velho amigo de parceria nada trivial, ofendido do meu inédito desapego, descrente que ando da sua melancolia.
Se soubesse o que há, se na dor fôssemos esses parceiros que vem me demandando, talvez eu guiasse meus passos ao teu encontro e alcançaria essa realidade doente com as mãos, anestesiando teus pesadelos.
Mas não entendo que não é delírio. Uma luz louca que forja o metal da sua fronte, que aponta a espada para fora e golpeia tudo o que se move que não seja para servir.
E antes eu correria para um novo golpe, fora que ando cansada dos mesmos e também tenho uma vida para levar, mesmo caso você não se lembre, ou caso não se importe.
A dor que eu mastigo também é tua. E deixando de lado a patetice do outro, até que se pode compreender que aqui há um sistema de trocas. E que há muito você não tem crédito.
Ainda, deixando isso de lado, por que deveria ser hoje? Nessa hora em que eu me sinto tão amarga quanto, ou ainda pior, que tenho que rastejar ao seu portão e sentir-me mais ainda desmascarada...
Essa é primeira vez que digo não. E não é vingança, ou dissabor, ou qualquer outra idiotice que se possa pensar.
É manter o buraco em seu tamanho natural.
Estou cansada, estou com sono, tenho essas pequenas e ridículas coisas que não te importam, que talvez sejam, em si, o que vês como um poço de desprezo, mas, a mim, servem. Vou deitar amanhecendo o dia, culpada de não guiá-las até o fim.
Mas, amanhã, persistindo os sintomas, aguardo teu telefonema.