sábado, 24 de outubro de 2009

Florzinha, florzinha... e mansa.

UM ano.

E todos os demais.

E como te negar, após um ano?

É como negar algo de mim.

E como continuar, após um ano...

Como desmentir, ao acordar, o seu sorriso.

Como existir sem ele?

Um pão, para cada manhã. Um suspiro, para cada manhã, sem...

E um telefonema, que enche meu peito, sem sinais de comedidade.

E eu já não caibo em mim. Nem em você.

Eu apenas me encaixo.

A gente se encaixa.

Você, minha caixa?

Eu sei, eu sei que é ilusão.

Mas ilusão daquelas gostosas, que eu quero viver ali dentro.

Você, aqui dentro.

Você já está aqui dentro.

Eu sinto seu respirar.

Sinto seu sono leve. E essa vida de susto, que você vai levando, eu achando graça.

Eu sinto uma falta de você aqui perto.

Eu queria você, perto, sempre

E se a graça acabasse, iria acabar com meu riso estampado, de ter apreciado seu corpo, justaposto ao meu, por mais horas do que eu possa sonhar por noite.

Isso já nem é poema. Eu declaro.

Eu declaro que amor, a gente não entende, só se atrapalha, empata o nascer e sofre o morrer.

Eu vou te dar um ultimato. Você se prepare...

Que é dormir ao meu lado, uma vez por semana, no mínimo.

Que eu quero te fazer um café da manhã e saber se já tirou todas as músicas.

Senão, eu vou te negar.

E você vai pra outro lugar do meu existir.

Cara, eu queria ver sair de mim um filho teu. Esperando que ele tenha a sua cara.

Eu sei que isso é coisa mais dos trinta que chegam do que eu te amo...

Mas não se engane. Eu te amo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Deus

O que há de Deus

Que de entrega, que de alívio,

Te interfere a culpa de sentir-se vivo,

E de gozar, sombrio, as próprias entranhas


Que há, senhor deus,

De tanto desequilíbrio, entre Mim e o próximo,

Que eu não possa ou não deva.

Mas que a ele, por ele, me sacrifique


O que há de tanto desejo,

De tanta busca e promessas,

De compensar essa mísera existência.

Altares de homenagens, por simplesmente respirar


O que há?


De não contemplar o que se sente na carne,

De se envergonhar do próprio corpo,

templo de nós mesmos,

Para louvar a um alheio etéreo e ilusório


Quem lhe comanda na terra?

Como se apropria de palavras tão promíscuas,

Que, re-interpretadas, tantas e tantas vezes,

Justificam o amor, o ódio...

Mas nunca a dúvida, o talvez.


É uma prece a mim mesma,

Um lento rosno de vitórias estendidas

Sem se habituar a engrandecer o louco, o profano,

O umbigo e seu desnível em direção ao tudo,

Em relação ao nada.


Romper o véu da soberania desleixada,

que honrar uma palavra vazia de rosto, altiva de nome

estatizou no cumprimento de uma ordem.

O que há de desordem?

E se nada houver de ordem?


Se nada houver de se louvar,

de se culpar, de se agradecer, de se engrandecer,

eu caio de joelhos nessa terra, encaro a solidão do universo,

e rezo desmedidamente, crente,

no poder da minha própria palavra.


Amém.


Mari Brasil