Eu digo a todos que, no dia em que a Maria perder as esperanças e não as recobrar, eu desisto: viro fria, frígida, geladeira, de vez. Vou viver minha vidinha escrevendo poesias que não mais falem de amor, paixões e das loucuras que permitimos aflorar quando temos esses sentimentos como desculpas.
Estava escrevendo mais um texto “sessão Revista Cláudia”, cheio de enfeites e floreios para descrever isso aqui ó:
Eu tento muito deixar que a lógica me guie para longe desses “óculos de poetas”, para longe de todas as músicas da Bonnie Tyler e do Whitesnake, dos romances do José de Alencar e do Shakespeare, das novelas que assistia com a minha avó quando criança... mas estou chegando à conclusão de que a minha lógica se converte à das moscas.
Parece até que nos convencemos de que sem essas invenções florzísticas, viver tem pouca ou nenhuma graça. Somos, nós duas, mosquitinhas, dando com a cabeça no vidro.
E as moscas têm aqueles olhos enormes, que permitem que elas tenham uma visão panorâmica do mundo, para compensar o tamanhozinho diminuto e as células nervosas pouco desenvolvidas. Fico imaginando o que elas pensam:
- Hummm... acho que agora vai. Vou tentar aqui!
Tuc. Tuc. (dando com a cabeça na vidraça fechada)
Bzzzzzzzzzz (ela se afasta, e pensa:)
- Mas ali não deu. Hummmm. Vou tentar de novo! Um pouquinho para o lado agora!
Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzz
- Droga. Mas o que tem ali? Será que dá mais pro outro ladinho agora?
Tuc. Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzzzz
- É acho que não dá mesmo. Quem sabe se eu mudar de sentido. Ir para trás agora? Hummmmm. Na! Na! De novo, eu sei que vou conseguir! Iupii!
Tuc. Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzzzzzzz
- Ai, ai, ai! Parece que não dá certo mesmo. Acho que vou desistir. Ahhhh, mas ali fora tem um céu azul taaaaaão bonito! Acho que dessa vez vai dar...
Tuc. Tuc. Tuc.
E assim vai Marie. E assim vamos!
Nós e essas moscas idiotas! Nós somos essas moscas idiotas!
A gente conhece uma pessoa e ela nos parece o céu azul do outro lado da vidraça. Mas, claro que parece! Nós e nossos ridículos óculos de poetas, como os olhos panorâmicos das moscas! Não conseguimos enxergar nem o vidro, bem diante do nariz! Só o céu azul, a privada com tampa de coraçõezinhos, a merda adornada, como você muito bem disse...
O pior é que seria tão simples, apenas, dar a marcha a ré da janela, seguir em outra direção... esquecer o romance, parar de fingir que o que vemos não é ilusão que se quebra, mil pedacinhos quando damos com a cara na vidraça.
E cada cabeçada dói mais. Cada pessoa que conhecemos, pintamos de azul, imaginamos até o pote de mel no meio daquele azul, brilhando num céu de verão numa praia deserta. E estrelas, pipas, vaga-lumes – essas coisas que sempre passeiam na cabeça das pessoas-mosquitas, como nós.
Chegou uma carta da Caixa pra você. Tenho um saco de correspondências para te mandar e cheguei a pensar em aproveitar e botar meu coração no envelope, que ele anda me deixando louca – quem sabe você cuida melhor dele? Ou dê logo pra Bonita mastigar, que vai ser melhor uso do que machucando aqui dentro.
O meu céu azul é casado, Marie.
Por que esses céus não avisam isso antes que a gente fique dando com a cabeça na vidraça, imaginando o paraíso ali do outro lado?
Tou triste, triste, triste. Já estava vendo uma porção de vaga-lumes, pensando que... se fosse só um pouquinho para o lado agora... agora ia dar! Sair voando, ainda que baixo, uma floresta noturna depois da janela...
Mas...
Tuc, tuc. Tuc.
Sei que agora dói e a vontade mesmo é mudar a direção. Mas fui educada a achar que a outra direção não vale a pena, que deixar de sentir as borboletas dentro de mim faz com que tudo fique mais cinza – e nem cinza de tempestades que admiramos, mas dos dias chuvosos em que tudo o que pensamos é que seria bom ter um céu azul aqui do lado.
Será que um dia vou conseguir mudar essa natureza mosca? Que caralho Marie! Foram tantos os gritinhos de maritaca que tou até sem voz... ou será que a gente precisa mesmo é acostumar com esse lado do vidro e ficar bem feliz de ter tido as imagens lindas... mesmo só um dia. Uma hora...
Parece tão cru. Sentindo ser uma mosca idiota dando com a cara na janela. Será que vem pela frente, logo, alguém com um mata-moscas, para acabar com esse vai-e-vem desesperado para lugar nenhum?
Marie...
vou acabar ficando cinza para sempre...
Preciso que me escancarem a janela!
Estava escrevendo mais um texto “sessão Revista Cláudia”, cheio de enfeites e floreios para descrever isso aqui ó:
Eu tento muito deixar que a lógica me guie para longe desses “óculos de poetas”, para longe de todas as músicas da Bonnie Tyler e do Whitesnake, dos romances do José de Alencar e do Shakespeare, das novelas que assistia com a minha avó quando criança... mas estou chegando à conclusão de que a minha lógica se converte à das moscas.
Parece até que nos convencemos de que sem essas invenções florzísticas, viver tem pouca ou nenhuma graça. Somos, nós duas, mosquitinhas, dando com a cabeça no vidro.
E as moscas têm aqueles olhos enormes, que permitem que elas tenham uma visão panorâmica do mundo, para compensar o tamanhozinho diminuto e as células nervosas pouco desenvolvidas. Fico imaginando o que elas pensam:
- Hummm... acho que agora vai. Vou tentar aqui!
Tuc. Tuc. (dando com a cabeça na vidraça fechada)
Bzzzzzzzzzz (ela se afasta, e pensa:)
- Mas ali não deu. Hummmm. Vou tentar de novo! Um pouquinho para o lado agora!
Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzz
- Droga. Mas o que tem ali? Será que dá mais pro outro ladinho agora?
Tuc. Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzzzz
- É acho que não dá mesmo. Quem sabe se eu mudar de sentido. Ir para trás agora? Hummmmm. Na! Na! De novo, eu sei que vou conseguir! Iupii!
Tuc. Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzzzzzzz
- Ai, ai, ai! Parece que não dá certo mesmo. Acho que vou desistir. Ahhhh, mas ali fora tem um céu azul taaaaaão bonito! Acho que dessa vez vai dar...
Tuc. Tuc. Tuc.
E assim vai Marie. E assim vamos!
Nós e essas moscas idiotas! Nós somos essas moscas idiotas!
A gente conhece uma pessoa e ela nos parece o céu azul do outro lado da vidraça. Mas, claro que parece! Nós e nossos ridículos óculos de poetas, como os olhos panorâmicos das moscas! Não conseguimos enxergar nem o vidro, bem diante do nariz! Só o céu azul, a privada com tampa de coraçõezinhos, a merda adornada, como você muito bem disse...
O pior é que seria tão simples, apenas, dar a marcha a ré da janela, seguir em outra direção... esquecer o romance, parar de fingir que o que vemos não é ilusão que se quebra, mil pedacinhos quando damos com a cara na vidraça.
E cada cabeçada dói mais. Cada pessoa que conhecemos, pintamos de azul, imaginamos até o pote de mel no meio daquele azul, brilhando num céu de verão numa praia deserta. E estrelas, pipas, vaga-lumes – essas coisas que sempre passeiam na cabeça das pessoas-mosquitas, como nós.
Chegou uma carta da Caixa pra você. Tenho um saco de correspondências para te mandar e cheguei a pensar em aproveitar e botar meu coração no envelope, que ele anda me deixando louca – quem sabe você cuida melhor dele? Ou dê logo pra Bonita mastigar, que vai ser melhor uso do que machucando aqui dentro.
O meu céu azul é casado, Marie.
Por que esses céus não avisam isso antes que a gente fique dando com a cabeça na vidraça, imaginando o paraíso ali do outro lado?
Tou triste, triste, triste. Já estava vendo uma porção de vaga-lumes, pensando que... se fosse só um pouquinho para o lado agora... agora ia dar! Sair voando, ainda que baixo, uma floresta noturna depois da janela...
Mas...
Tuc, tuc. Tuc.
Sei que agora dói e a vontade mesmo é mudar a direção. Mas fui educada a achar que a outra direção não vale a pena, que deixar de sentir as borboletas dentro de mim faz com que tudo fique mais cinza – e nem cinza de tempestades que admiramos, mas dos dias chuvosos em que tudo o que pensamos é que seria bom ter um céu azul aqui do lado.
Será que um dia vou conseguir mudar essa natureza mosca? Que caralho Marie! Foram tantos os gritinhos de maritaca que tou até sem voz... ou será que a gente precisa mesmo é acostumar com esse lado do vidro e ficar bem feliz de ter tido as imagens lindas... mesmo só um dia. Uma hora...
Parece tão cru. Sentindo ser uma mosca idiota dando com a cara na janela. Será que vem pela frente, logo, alguém com um mata-moscas, para acabar com esse vai-e-vem desesperado para lugar nenhum?
Marie...
vou acabar ficando cinza para sempre...
Preciso que me escancarem a janela!
Mari Brasil
Um comentário:
ô judiação meu amor...
manda pra cá esse coração de menina poeta que eu colo e te mando de volta via sedex...
acho que mosca tem que achar lindo o céu...e amar o copo... que é o que está bem mais ´próximo, e talvez contemplar de longe o céu refletido nele....ah sei lá...rasguei as minhas receitas...te amo, disso eu sei....sempre sempre
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