terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

se eu fosse sincera...

Para dizer a verdade, a idéia que sempre vem à cabeça é começar me defendendo: que não, não espero nada de você, só gostei da sua companhia, sou diferente e etc e tal. Mas acontece que eu não faço a menor idéia do que quero, planejo, ou espero.
Faz dez dias que penso que você existe. Paro por alguns segundos, relembro alguma imagem daquelas horas e sorrio como uma completa idiota, fechando os olhos e sentindo arrepios.
Toda a memória de você em meu corpo provoca a impressão de que há um quê de especial no nosso encontro. Ao mesmo tempo sei que sou uma romântica e desconfio desse romantismo na hora, lembrando a mim mesma que essas invenções têm lugar em outras épocas da minha vida, do mundo, mas não agora.
Agora elas servem de distração das demais coisas que verdadeiramente importam: ser uma boa profissional, pagar contas no prazo, descobrir como funciona o efeito-leitor da TV e traçar um plano educacional complexo para desbancá-lo, escrever um livro, comprar uma casa...
Essas coisas que as pessoas normais chamam de vida. E que eu considero completamente insossa, sem graça, sem mel.
Comprar uma casa? Mas aonde? São tantos os lugares que eu quero ir passar tempo, que não seria possível essa escolha.
Boa profissional? Mas a única coisa que me importa fazer é escrever. E nem isso ando fazendo direito, essa ansiedade que estou me tornando, como se tudo fosse acabar amanhã, e... para quê? Para quem escrever tudo isso?
Eu não vou entregar você. Eu não sou sincera.
Nesta insinceridade, penso em lhe enviar um e-mail dizendo que gostaria de te ver porque é muito difícil conhecer alguém tão genial para conversar. Mas isso também é mentira. Muitas e muitas pessoas para conversar...
É o meu romantismo te pintando de rosa, como se houvesse mesmo algo diferente quando se olha pelos meus olhos, a minha mão, puxando os seus cabelos. Não é nada de mais. É inventado...
E falar que nem me interesso tanto...
Ignorar que, à noite, deitada no sofá, imagino você ali, dizendo qualquer coisa que me impeça de prestar atenção ao livro que tento ler.
Desejo que me atrapalhe...
Um sonho mórbido de deixar as coisas ao redor em suspensão. Doze horas de alucinação coletiva, dentro das quais só cabem os minutos, os segundos, eu, você – um escape.
Sei que os meninos que se interessam vêm nos ver correndo. Sei que você não está fazendo isso. Sei que posso fingir desinteresse. A verdade é que eu já sei de tudo.
Sei que, na semana que vem, você não vai ser tão importante.
É impressionante a quantidade de pessoas que podemos encontrar pela vida, quando estamos dispostos.
Mas hoje, ontem, talvez amanhã, espero de você, tudo – menos um tempo de duração.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

o avesso


Tem um complexo do avesso que me segue enquanto vou à padaria. Na verdade, me segue o tempo todo, com fosse uma sombra do que eu sou de verdade, ou do que nunca seria, mesmo quando não me vêem sendo.
Quando eu compro limões, ele diz baixinho que leve o maracujá doce, para compensar tanto azedo. Mas, eu sou teimosa e, na teimosia, desafio o avesso e, me torno, então o complexo do avesso: levo jiló.
Quando caminho no sol escaldante desse deserto aonde vim existir por esses dias, eu olho para trás, de repente, de desconfiar o avesso tramando. Acho que a voz que pára é o complexo, que inventa para mim o avesso, que, afinal não existe.

É esse desejo se ser complexo, avesso, e, ainda assim existir com mais seis bilhões e caber neles, direitinho, exatamente pelo complexo... que segue todo mundo no caminho da padaria.



Mari Brasil

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Maria, essa é, de novo, para você...


Eu digo a todos que, no dia em que a Maria perder as esperanças e não as recobrar, eu desisto: viro fria, frígida, geladeira, de vez. Vou viver minha vidinha escrevendo poesias que não mais falem de amor, paixões e das loucuras que permitimos aflorar quando temos esses sentimentos como desculpas.
Estava escrevendo mais um texto “sessão Revista Cláudia”, cheio de enfeites e floreios para descrever isso aqui ó:
Eu tento muito deixar que a lógica me guie para longe desses “óculos de poetas”, para longe de todas as músicas da Bonnie Tyler e do Whitesnake, dos romances do José de Alencar e do Shakespeare, das novelas que assistia com a minha avó quando criança... mas estou chegando à conclusão de que a minha lógica se converte à das moscas.
Parece até que nos convencemos de que sem essas invenções florzísticas, viver tem pouca ou nenhuma graça. Somos, nós duas, mosquitinhas, dando com a cabeça no vidro.
E as moscas têm aqueles olhos enormes, que permitem que elas tenham uma visão panorâmica do mundo, para compensar o tamanhozinho diminuto e as células nervosas pouco desenvolvidas. Fico imaginando o que elas pensam:
- Hummm... acho que agora vai. Vou tentar aqui!
Tuc. Tuc. (dando com a cabeça na vidraça fechada)
Bzzzzzzzzzz (ela se afasta, e pensa:)
- Mas ali não deu. Hummmm. Vou tentar de novo! Um pouquinho para o lado agora!
Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzz
- Droga. Mas o que tem ali? Será que dá mais pro outro ladinho agora?
Tuc. Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzzzz
- É acho que não dá mesmo. Quem sabe se eu mudar de sentido. Ir para trás agora? Hummmmm. Na! Na! De novo, eu sei que vou conseguir! Iupii!
Tuc. Tuc. Tuc.
Bzzzzzzzzzzzzzzzzzz
- Ai, ai, ai! Parece que não dá certo mesmo. Acho que vou desistir. Ahhhh, mas ali fora tem um céu azul taaaaaão bonito! Acho que dessa vez vai dar...
Tuc. Tuc. Tuc.
E assim vai Marie. E assim vamos!
Nós e essas moscas idiotas! Nós somos essas moscas idiotas!
A gente conhece uma pessoa e ela nos parece o céu azul do outro lado da vidraça. Mas, claro que parece! Nós e nossos ridículos óculos de poetas, como os olhos panorâmicos das moscas! Não conseguimos enxergar nem o vidro, bem diante do nariz! Só o céu azul, a privada com tampa de coraçõezinhos, a merda adornada, como você muito bem disse...
O pior é que seria tão simples, apenas, dar a marcha a ré da janela, seguir em outra direção... esquecer o romance, parar de fingir que o que vemos não é ilusão que se quebra, mil pedacinhos quando damos com a cara na vidraça.
E cada cabeçada dói mais. Cada pessoa que conhecemos, pintamos de azul, imaginamos até o pote de mel no meio daquele azul, brilhando num céu de verão numa praia deserta. E estrelas, pipas, vaga-lumes – essas coisas que sempre passeiam na cabeça das pessoas-mosquitas, como nós.
Chegou uma carta da Caixa pra você. Tenho um saco de correspondências para te mandar e cheguei a pensar em aproveitar e botar meu coração no envelope, que ele anda me deixando louca – quem sabe você cuida melhor dele? Ou dê logo pra Bonita mastigar, que vai ser melhor uso do que machucando aqui dentro.
O meu céu azul é casado, Marie.
Por que esses céus não avisam isso antes que a gente fique dando com a cabeça na vidraça, imaginando o paraíso ali do outro lado?
Tou triste, triste, triste. Já estava vendo uma porção de vaga-lumes, pensando que... se fosse só um pouquinho para o lado agora... agora ia dar! Sair voando, ainda que baixo, uma floresta noturna depois da janela...
Mas...
Tuc, tuc. Tuc.
Sei que agora dói e a vontade mesmo é mudar a direção. Mas fui educada a achar que a outra direção não vale a pena, que deixar de sentir as borboletas dentro de mim faz com que tudo fique mais cinza – e nem cinza de tempestades que admiramos, mas dos dias chuvosos em que tudo o que pensamos é que seria bom ter um céu azul aqui do lado.
Será que um dia vou conseguir mudar essa natureza mosca? Que caralho Marie! Foram tantos os gritinhos de maritaca que tou até sem voz... ou será que a gente precisa mesmo é acostumar com esse lado do vidro e ficar bem feliz de ter tido as imagens lindas... mesmo só um dia. Uma hora...
Parece tão cru. Sentindo ser uma mosca idiota dando com a cara na janela. Será que vem pela frente, logo, alguém com um mata-moscas, para acabar com esse vai-e-vem desesperado para lugar nenhum?
Marie...
vou acabar ficando cinza para sempre...
Preciso que me escancarem a janela!




Mari Brasil

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Tendência

No abrir das asas, uma medida de ponta a ponta.
Cabia dentro de si, de todas as formas.
Acho que nunca puxei tanto um maço de cabelos como naquela manhã...

Às vezes parece que o fundo dos olhos engana
Que se corre atrás de nuvem, que se desfaz quando alcança.
Não é possível prender, não é possível apanhar, não é possível e só...

Há alguns minutos em que o céu parece invadir.
E estamos flutuando em seu meio.
E o céu flutuando no nosso...

Vale nada se arrepender da hora que foi boa,
só porque passou.
Ainda nem lavei meus cabelos, só pra continuar sentindo seu cheiro..