quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Banana


E por que, a algumas pessoas, reservamos a indelicadeza de passar meses sem nada escrever? Pois as vemos de maneira tão... "pedestalesca", que temos medo de nos sentir ridículos com a futilidade de um "oi, tudo bem? Foi muito especial, tenho saudades".

É o meu caso de não saber o que lhe dizer, como dizer, de onde partir, como chegar.
Seria mais fácil se voltássemos a ser crianças e eu simplesmente pudesse escrever num bilhetinho:

A garota Nina,
Se fosse palavra, seria rima,
Se fosse sonho, minha menina,
Se fosse por ti, iria até a China...

Mas foram dias e meses e a covardia se adiantou: calei. E pensava um pouquinho nos fins de tarde, como descreveria aquelas bolas de gude gigantes, que falavam muito mais que a tua boca.

Peraí: bolas de gude?

E parece que nenhuma palavra te merece, que nenhum adjetivo te faz justiça, que não há mesmo como explicar as horas vadias em que te amei só pelo modo como embirrava fechando as janelas das bolas de gude...

Queria te pintar num quadro, chupando um pirulito em formato de coraçãozinho...

sábado, 20 de dezembro de 2008

Sou quase

Sou quase-memória,
Do que a carne se desfaz em prantos,
Daquilo que carregamos em caixas,
Do que ascende à superfície
E fica marcado no olho.

Sou a deixa, sou a oportunidade,
Do que se larga na casa velha,
Daquele salto mortal de 3 centímetros,
Do vago do dia que não chega
E é toda sua vida.

Sou palavra destacada,
Do que escreveram todos os poetas,
Naquele corpo vadio de quinta passada,
Do instante pleno e rasgado que sangra
E te escurece de pena e ilusão.

Sou confusa, estou errada!
Do que se constituem certezas,
Daquela porca moral de ser humana,
Do ócio do deleite da noite,
Da figura do trabalhador da madrugada...
Não sou nada.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008


Sempre tive uma tendência suicida, mas agora isso anda ultrapassado. É claro – mas é claro! – que volta e meia tudo fica amargo e a gente começa a pensar bosta. Deve ser uma daquelas coisas que se chama de “inerente ao espírito humano”.
Mas não há de ser nada, que a gente acaba respirando fundo e encontrando, numa entrevista com a Márcia Bechara, na Mel pulando de um lado pro outro no quintal, no cheiro de batatas suíças sobre o fogão, enfim, nessas “coisinhas”, um alívio que nos recai – e a gente recai sobre a cadeira, massacra os teclados e desanuvia um pouco o nublado de dentro.
Ando assistindo muito à TV. E ontem mesmo, num desses seriados idióticos-hipnóticos, ouvi a dublagem do detetive fodão regurgitando que, se passamos a maior parte do tempo em um lugar, pensando que gostaríamos de estar em outro... algo não vai bem.
Parece óbvio, mas pouco tenho dedicado dos meus dias a refletir sobre a quantidade de vezes em que queria estar em qualquer outro lugar. E, em algumas, gostaria de estar até fora da minha pele – de repente o recheio de outro corpo, num veleiro soprando lugares azuis.
Passo os dias a desejar tempo para deitar na minha rede e mastigar páginas e páginas dos livros parados nas estantes do mundo. Ouvindo Billie Holiday e levantando os olhos por sobre o livro, cometendo mesmo o delito de desviar a atenção para a quietude do lugar em que me imagino, para as árvores balançando de vento, para... enfim, aquela cachoeira ao fundo que inventei, também, nesse sonho. Para onde eu vou quando o calor bate forte e posso me banhar, nadar...
Tem uma porçãozinha de cupins morando dentro dos rolos de papel higiênico do banheiro. E quando puxo o papel, estão formados milhões de desenhos furadinhos – as alegorias da hora íntima...

O vento anda estacionado. É sina de chuva, de verão, de calor, de biquíni, de trepar com areia entrando no bumbum. É sina minha, de o mundo me incomodar, porque deixo meus olhos voltados para todas as outras coisas exceto aqui mesmo. E, viver, parece ter sido um constante negar das coisas concretas...