Esconde e escolhe e encolhe o raio que foi o dia, anuncia a noite e atrai:
nuvem de armadilhas de mim mesma, encaçapando a razão, quebrando a janela.
- Conheci um mago semana passada e ele me enfeitiçaria se eu lhe desse o rabo...
- Dei.
Ia saindo de manso, virei as costas e... me tornei a janela.
Agora preciso de algo que me escancare!
E você...
Você é um resto de ódio, de incompletude, de pó,
a vaidade que não se concretiza, o osso do cachorro que perdeu o buraco onde enterrou.
Corre cru, como um pálido de giz que risca as paredes do meu quarto,
Parado, é um ponteiro de relógio, que diz que é tempo de a hora não mais passar.
E se existe algo além do rio que me atravessa, algo além do que me atrapalha,
me corrói um erro de cristalizar o ser, o nascer, o amar e o amargo,
todos sempre juntos na lida cotidiana, no jogo de esconder o bárbaro e o real.
E sempre há, é claro, as semanas em que me sinto suja...
Coberta da sujeira, satisfeita de lama, me esfrego em becos,
deito no chão, rolo no chão e lambo os muros, me faltam palavras.
Sempre me faltam as palavras...
Então digo mesmo nada que preste, e a sujeira continua, cinza do dia que já vai embora e do encardido tatuado na minha cara.
Mari Brasil
2 comentários:
gostei da espontaneidade da criação que vai saindo, e uma coisa bem intimista que parece um labirinto que leva a algum lugar dentro de ti. parabéns.
Me morde de súbito cada uma dessas palavras, cada viés me espanta nas entrelinhas e em tudo aquilo que deixa de ser dito. Enquanto tento me chocar com o que é escrito, em branco sobre o ébano, me maravilho com todos os sentimentos mudos nas linhas que ali não estão.
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