Já havia vazado mais de litro quando chegamos lá. O desfecho escuro da noite já se ia, o morno da carne também, contornando o ar do quarto, suave, que nem mar em calmaria.
Os olhos ainda escancarados, a boca dura, quase que cravada no travesseiro.
Pensava no tempo, enquanto acariciava os cabelos secos que desciam pela nuca.
Encontrei, nas costas nuas, razões para mantê-las assim nuas por mais algumas horas. Eram pedaços de corpo em que nunca havia reparado, apesar de tanta maldade, de tanta malícia com que havia afagado estas costas, unhas cravadas até o gozo ébrio e úmido.
Uma curva. Uma marca. Outra marca.
Sempre estiveram ali. Enquanto eu... nunca estive de verdade. Nunca fui registro deste corpo, parte dele.
E, ainda assim, ao me debruçar naquela nova curva, senti meu cheiro se espalhando por sobre o cheiro dela, dele, da cama, do quarto, mergulhada numa sensação de cobrir aquela que havia sido outra vida, outro plano.
Ela chorava, em pé, horrorizada da cena de morte, quando lhe disse:
- Você já não esteve perdida? Digo, você, alguma vez, teve um plano?
Ela não entendeu a pergunta.
Não, ela entendeu a pergunta. Só não conseguia entender o que isso tinha a ver com a situação. E continuou chorosa, continuou descontrolada, enquanto eu continuava procurando novos contornos. Insisti:
- Você também é curiosa sobre as pessoas que têm um plano?
- Por que você está fazendo estas perguntas idiotas? Ligue para alguém! Chame alguém! – berrou, entre soluços.
Mas, as costas nuas me convidavam a contemplá-las, em toda sua rigidez. E eu não me movi.
Os olhos ainda escancarados, a boca dura, quase que cravada no travesseiro.
Pensava no tempo, enquanto acariciava os cabelos secos que desciam pela nuca.
Encontrei, nas costas nuas, razões para mantê-las assim nuas por mais algumas horas. Eram pedaços de corpo em que nunca havia reparado, apesar de tanta maldade, de tanta malícia com que havia afagado estas costas, unhas cravadas até o gozo ébrio e úmido.
Uma curva. Uma marca. Outra marca.
Sempre estiveram ali. Enquanto eu... nunca estive de verdade. Nunca fui registro deste corpo, parte dele.
E, ainda assim, ao me debruçar naquela nova curva, senti meu cheiro se espalhando por sobre o cheiro dela, dele, da cama, do quarto, mergulhada numa sensação de cobrir aquela que havia sido outra vida, outro plano.
Ela chorava, em pé, horrorizada da cena de morte, quando lhe disse:
- Você já não esteve perdida? Digo, você, alguma vez, teve um plano?
Ela não entendeu a pergunta.
Não, ela entendeu a pergunta. Só não conseguia entender o que isso tinha a ver com a situação. E continuou chorosa, continuou descontrolada, enquanto eu continuava procurando novos contornos. Insisti:
- Você também é curiosa sobre as pessoas que têm um plano?
- Por que você está fazendo estas perguntas idiotas? Ligue para alguém! Chame alguém! – berrou, entre soluços.
Mas, as costas nuas me convidavam a contemplá-las, em toda sua rigidez. E eu não me movi.
O sol passou a despontar na manhã, um fiozinho alumiando a parede, perto da cômoda. Em cima dela, uma garrafa de vinho, as horas passando e os planos vazando, escorregadios, pela janela.
Mari Brasil