sexta-feira, 13 de junho de 2008

Deu com a língua nos dentes...


O seu silêncio é uma revolução de abortos,
de cada frase, ou aspecto, ou ternura, ou coisa e tal.
É antes, um tiro no rabo da boiada.
Um desespero que antecipa:

que virou asas num outro quintal,
incendiou sua vida pra outro lado...

Seu silêncio dói que nem facada:
corta as gengivas, das palavras que não saem.
sangra aqui dentro o que estou calada.
Me acaba, me acaba...

que não tem mais criança que agüente,
cresceu na marra e não é boba: cala.

O seu silêncio me desamarra,
me retribui um dó que me ofende,
pensa que me surpreende e me poupa,
mas, diz tudo, sem dizer nada:

que tem medo de quebrar cubos de gelo,
quando deveria saber que o que resta é água.

O seu silêncio, além de tudo,
me pressupõe fraca,
te assume temeroso da vida,
ao mesmo tempo, contemplando-a do alto do seu ego:

que pensa que controla o que sinto,
que pensa que, do silêncio, não se sente nada.

O seu silêncio deu com a língua nos dentes,
disse tudo nas entrelinhas, travesso, brincando sem palavras,
entoou um mantra de adeus,
retirou suas armas e obedeceu ao toque de recolher:

que deixou no lugar um vazio de solidão,
e um silêncio meu,
que não significa mais nada.
Mari Brasil

2 comentários:

Maria Cláudia S. Lopes disse...

meu, vc sempre me surpreende com umas metáforas inacreditáveis....essa do cubo de gelo foi fodaaaaaaaaa

Rê Bordosa disse...

Querida Pandora,
como tua amiga,te desejo homens rastejantes, todos aos teus pés,e vc,Deusa, num pedestal de ouro, chutando todas as cabeças suplicantes por migalhas do teu sexo e do amor; mas como fã de tuas poesias, fico na torcida, que eles te pisem com saltos cada vez mais finose compridos,porque donde se nutriria o poeta senão de desamores, coraçoes partidos e dissabores de sonhos desfeitos?