segunda-feira, 28 de abril de 2008

Desejo



Do osso, a pele grudada.
Da confusão, que se decida!
Quando a noite pergunta, peço-lhe o sol.
Da insegurança, quero que não me faça perguntas.
Da insegurança, que confie em mim.

Da tristeza, preciso do sorriso.
E, quando acordo, o sonho.
No meio do deserto, meu desejo é seu oásis.
Na falácia, busco as verdades,
como se houvesse, nas entrelinhas...

Da mudez, quero as palavras,
poesia e melodia.
Da apatia, desejo o ímpeto.
Quando sente medo, quero a coragem.
Da ocupação, os seus horários...

Olha para mim sem enxergar nada,
ouça minha voz e não me escute,
atropele os meus caminhos,
pois, quando amo,
desejo nada menos que o seu impossível.
Mari Brasil

terça-feira, 22 de abril de 2008

Blowjob

Muita corda na garganta, só esperando nós, banquinhos e um pulo para um infinito.
Quem me amarra sou eu.
Sou quem dá o “nós”,
esperando que alguém me desamarre.

Ah, faça-me o favor e logo me avise, hein?
Estas expectativas andam de matar!
Aquela menininha rindo de mim na sacada também.
Até parece que nunca foi amada...

Ando correndo lado pro outro do espelho
só ali me vejo.
Nada de olho no olho: olho numa fina camada de prata.
E me reconheço.

Parece até que não te culpo,
tudo aqui dentro, nas entranhas:
um corpo, um beijo, uma mão e ando de joelhos.
Troco passagens, amo a volta e não há nada aqui que compense.

Só um abraço inventado,
mentira, mentira que cochicho pra mim:
sorriso estampado na cara e uma vontade de sei lá quê...
que dê conta de tanta sede de histórias de mais de um e menos de muitos.

Nem parece que você não sabe.
Tudo trocado aqui dentro: sem olhar duas vezes no mesmo sentido.
E, quando olho, me perco de novo.
Te mastigo inteiro e você já não é nada.
E nem eu sou.
Perdida que estou, nesse teu cheiro.
Mari Brasil

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Acorde,


Acorde, então, no dia estranho da tua casa e bate a porta ao entrar quarto acima sob tanta chuva. Espeta o dedo no cheiro de saudade e entra no chuveiro para se aquecer e limpar a dor de ser um traidor.
É tanto medo que não vê, nos lados, um fundo de mentiras e à frente, um caminho possível.
Pânico: não observar as outras direções e seguir reto: um plano.
Mas, no plano, a possibilidade de não funcionar.
Então parte para o ataque a todas as coisas, nada passando de lado, e nada... nada enfocando pelas tuas lentes.
É de um abraço do destino que precisa, daqueles que não se pode se desvencilhar.
Mistura um laço de cipós com uma onda certeira do mar e vai ao fundo. Fica lá, preso ao abraço do destino...
Segundos em horas.
E, quando, alcança a areia, beija a areia, o chão da praia como um colchão, onde deita a cabeça e descansa.
Olha a tempestade dissipando.
Acorde, então, no dia estranho da tua casa e...
Deixa a porta aberta.
Mari Brasil

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Primeiro Olhar


Um ar inapropriado para um primeiro olhar.
Inadequado...
e, por tanto, curiosidade que apenas aflora em movimento.
Nada pensado:
sem obviedades quando caminho em sua direção.
Alguma coisa aquecida aqui dentro pelos nossos silêncios.

Então lhe digo:
- Aqui moram vontades e verdades, como palavras que já foram e não podem mais entender o dia. Ou extender o dia.

Desembaraço esboços de danças e chuva e...
uma satisfação de se acreditar em alguém que me partilhe os segredos do mundo.

Seus gestos me transformam as ilusões.
Ilusões, ainda que novas as formas, adocicadas.

Torço meus lábios e deixo a timidez passar.
Colo em seu rosto um segundo de beijo!
Uma música suspensa... no momento em que caem as distâncias de medo e sinto o peso da sua mão em meus cabelos.

Entre os quadros do quarto, um grande espelho.
Olho pela, a janela. E me volto:
respiro seu corpo no meu e apaixono: contorno dos teus ombros.

À meia-luz, uma curva castanha desce pela nuca e corre para a madrugada.
Em seu encalço, meu olhar para o seu,
entre o nosso,
para o nada.
Mari Brasil