sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ando Para Trás


Areia fina, sob os passos, enquanto me afasto,
Sem discernir o caminho enquanto não desvio os olhos do mar,
Hipnotizada, visão fixa, no ritmo da água,
Que não mais alcança meus pés.

Areia que se concretiza, sólida, chão quente,
Pisando em espinhos sem tempo de removê-los,
Dor inflando, enquanto caminho de costas,
Nenhuma resposta, nada que desvie o olhar.

Cresce o relevo, o contorno do chão,
E o passo é subida, escalada pragmática,
Chutando as pedras com os calcanhares,
A praia ficando longe e pequena,
Avistada daquela altura do céu que me aguarda.

O peito ofegando, o par de pés que sangra,
Da caminhada para a direção contrária,
E nada me pára...

Olhar para trás, redirecionar o corpo,
Uma necessidade de andar, afinal,
Não mais de costas.

Mas os olhos desobedecem,
Desejam o infinito das ondas revoltas,
O desenho do tecido que traça o horizonte da existência,
Imensidão azul, não paro.

Não paro de olhar.
E se furasse os dois olhos,
O pescoço se manteria travado lá,
Na direção da lembrança.

O corpo rígido, músculos teimosos, saudosos,
Do que havia daquele lado...
Não há curiosidade que vença o vício,
Não há dor que atrapalhe o desejo

De se manter, para sempre, o outro lugar
O outro instante, de viver a saudade,
Se amontoar sobre a saudade, se desmanchar de saudade,
E, por fim, de se tornar a saudade...


E não viver mais nada, além da memória do mar.



Mari Brasil

Um comentário:

Anônimo disse...

porque nunca tive pressa!