terça-feira, 30 de junho de 2009

Olhos...


Os meus olhos estão distantes.
Na distância circula determinada grandeza, um toque de irrealidade que carece de lentes para descartar o desespero.
Sempre abracei a tristeza. Que dela, devolvo poema. Devolvo ilusão. Devolvo mágica.
Sai desse nó o desejo de infância renovada, que busco, incompreendida, a cada passo, em cada volta da escada para o infinito.

Os meus olhos estão belos.
Na beleza circula o pranto, um toque de lágrimas que carecem calma de mãe para aplacar a dor.
Não há braços que envolvam o tanto de arbitrariedade necessária para devolver o trabalho, necessário.
O mês que se anuncia pactuou com meus olhos: nublados, como o céu deste julho.

Os meus olhos se desfazem,
chovem as decepções por mim estruturadas, na ingenuidade pragmática que se re-inventa a cada cadafalso, a cada passo em falso, na direção do nada.
A retirada é emergente, a retirada é conseqüente.
E meu olhar, inconseqüente.

Os meus olhos se fecham.

Para os seus olhos.
E não deixam nem mesmo um bilhete.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ah, eu nem gosto de nada...

É que o tamanho dos seus olhos é perfeito,
E são tantas as imperfeições admiráveis...
Que eu me banalizo perto.

Mas eu continuo, sabendo que nada, nada vai ser certo.
Que quando eu encontro as suas mãos
E elas me puxam pra você,
O tempo pára...

E eu brigo muito em aceitar,
Cair nessa sua armadilha,
Que é ter tanto de mim...
Ser um tanto eu...

Essa postura toda de armadura, que eu também inventei.

Só pra fingirmos mesmo que aqui dentro nada nos atinge.
Tão machucados, tristes,
Que parece não haver mais sentidos,

A não ser seguir em frente,
Dar o próximo gole,
Ser o próximo corpo, que se perde nessa madrugada.

Cínicos.
Porque os parâmetros nossos andam distorcidos, decepcionados.
Talvez seja só medo. Talvez sejamos mesmo... meio frios...
E até essa frieza eu acho bonita.

É que a sua boca faz com que o resto do mundo desapareça...
O seu tom de voz me acalma.
E eu não me acalmo. Nunca.

É que nossos corpos se encaixam, como chave e fechadura...
É que temos as mesmas ansiedades e insatisfações...
E uma teimosia... e raiva um do outro na medida certa...

É que quando sorri esses olhos, e lá no fundo, sorri de verdade,
Não tem nada mais encantador e apaixonante no mundo,
Do que a total perdição em que se encontra,
Em que te encontro,
Dentro de mim.

terça-feira, 9 de junho de 2009

LUA NUA


Fácil entender porque os poetas cantam a lua...


Porque cobre as minhas costas,

Este véu dourado,

Quando caminho na calçada,

Inspirando noite,

Cavalgando uma porção de vaga-lumes,

E “sinto muitos”, doloridos, machucados.


Que a dama me abraça de luar,

Me brisa, me alisa a face,

Me desobriga da dor que invento,

Cheia, full, plena.


E da orientação dos raios,

Sigo o caminho alumiado,

Que deixa do lado o desespero,

E emerge, rasante e insaturada,

Fênix, do profundo de dentro da garganta,

Meu grito, um implorar:


Me desencanta Lua!

Que fitar teus olhos por aqueles segundos,

Desatou meu corpo a se entregar...

Desatou meu amor a ruir, de tanto gasto,

Abrigou aqui dentro poesia,

Um sentir tanto, que não cabe em mim,

Mas se desfaz em letras que não se acabam,

Mas que não me acalmam: me transbordam.


Não, não, eu mordo minha língua!

Não!

Ao contrário:


Me encanta a Lua!

Deságua a luz em meu cabelo,

Que desce por sobre as costas,

No encalço da madrugada perdida,

A outrem endereçada,

A ninguém interessada,


Que a dama me abraça de luar,

Me brisa, me alisa a face,

Me desobriga da dor que invento,

Até minguar.


E nessa desorientação,

Flutuo dentro do infinito para mais além,

Corrôo de ar o vazio,

E a saudade me evade

E a tristeza me evade,


Num gesto marcado,

De madrepérola do seu sorriso,

Da delicadeza de um riso,

A estampar, novamente

Meu rosto.



Mari Brasil